Ilza Lima Duarte, 77 anos, foi encontrada morta em fevereiro de 2008. Sessão se inicia às 9h desta quinta-feira e deve se estender até sexta-feira
A suposta trama, que envolve herança e a tentativa de esconder um crime forjando a morte natural de uma idosa, começa a ser julgada nesta quinta-feira (6) em Porto Alegre. Mais de 11 anos após Ilza Lima Duarte, 77 anos, ser encontrada morta, três réus vão a júri. São ex-funcionários do prédio onde a anglicana morava, no Centro Histórico. Por insistência de um grupo de amigas, foi descoberto que a aposentada havia sido vítima de um crime.
A previsão é de que o júri, com início às 9h, no Forum da Capital, estenda-se até sexta-feira. Serão julgados nesta quinta-feira: Paulo Giovani Lemos da Silva, ex-porteiro do prédio, Pablo Miguel Scher, ex-auxiliar de serviços gerais e a esposa dele, Andréia da Rosa, que limpava apartamentos do prédio. A sessão será presidida pela juíza Cristiane Busatto Zardo, da 2ª Vara do Júri. Um casal, apontado pelo Ministério Público (MP) como mandante do crime, ainda não tem previsão de julgamento.
De acordo com a denúncia, a idosa teria sido morta a mando de Maria Fernanda Corrêa Homrich e Roberto Petry Homrich, que eram vizinhos no prédio localizado na Avenida Borges de Medeiros. Ambos negam participação na morte da anglicana.
O advogado Jader Marques afirma que a defesa segue aguardando o julgamento de recurso no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo do crime seria apressar o recebimento de cinco apartamentos, que seriam repassados a eles após a morte de Ilza — a aposentada não tinha filhos, morava sozinha e era dedicada a projetos sociais. Para isso, segundo o MP, teriam contratado os três que vão a júri nesta quinta-feira. Eles trabalhavam no prédio onde a anglicana morava.
De posse das chaves do apartamento da vítima, Scher e Silva teriam entrado no imóvel e estrangulado a idosa. Andréia, esposa de Scher, teria lavado as roupas da vítima, que estavam sujas de sangue e, após, estendido no varal na área de serviço do apartamento. Ela também teria limpado o local após o crime. Os três ainda teriam forjado a cena do assassinato, colocando um pedaço de pão na mão da vítima e o café ao seu lado.
As amigas da idosa estranharam alguns objetos fora do lugar dentro do apartamento, já que a aposentada costumava ser bastante organizada. O laudo da morte acabou confirmando que a vítima havia sido estrangulada. A investigação apontou que ela teria sido assassinada para que o casal recebesse de forma antecipada os cinco apartamentos dos quais tinham se tornado herdeiros. Os cinco chegaram a ser presos ao longo da apuração, mas atualmente respondem em liberdade.
Segundo o MP, que será representado pelo promotor André Martinez, uma testemunha relatou que Maria Fernanda pressionava a vítima a lhe repassar seus bens. Ela teria prometido a Andréia que lhe pagaria uma faculdade para que fizesse parte da empreitada criminosa. Para a Promotoria, existem provas da participação dos réus no planejamento e na execução do crime.
No dia posterior à morte, o porteiro Paulo Giovani não teria ido trabalhar alegando problemas sociais e nunca mais retornou. Em troca do crime, os réus receberiam ainda um apartamento e dinheiro. Os três acusados respondem por homicídio qualificado (motivo torpe, promessa de recompensa, meio cruel, asfixia e recurso que dificultou a defesa da vítima) e por fraude processual (alterar a cena do crime).
Vão a júri nesta quinta-feira:
Paulo Giovani Lemos da Silva
Ex-porteiro do prédio onde a aposentada morava, desapareceu do condomínio após a morte de Ilza. Exame de DNA apontou que foram encontrados pelos dele no quarto da vítima. Inicialmente, declarou à polícia que foi convidado por Pablo Miguel Scher para um serviço no apartamento, mas disse ter fugido quando viu que Ilza seria morta. Segundo o MP, teria recebido R$ 500.
Contraponto: Tatiana Kosby Boeira alega inocência do réu. A defensora pública alega que Silva estava cobrindo férias no período em que ocorreu o crime, que não tinha relação com os outros acusados e nem qualquer antecedente.
— Se vai contratar alguém para matar, procura um profissional. Não é o caso. Esse não é o perfil do Paulo Giovani — argumenta.
Pablo Miguel Scher
Era auxiliar de serviços gerais no prédio. É acusado ter sido contratado pelo casal para matar a idosa. Admitiu à polícia ter estrangulado Ilza com ajuda de Silva. Disse que receberia um apartamento. À Justiça, negou.
Andréia da Rosa
Trabalhava no apartamento do casal Homrich. Casada com Scher, é acusada de ter limpado o local do crime após a execução da vítima. Em depoimento, manteve-se em silêncio.
Contraponto: Rafael Soto e Paulo Dariva, que representam os dois réus, disseram, em nota, que “reiteram a inocência destes acusados, que negam, com veemência, qualquer envolvimento neste lamentável fato.” e aguardam “que a justiça seja feita e que a verdade venha à tona”.
Fonte: GauchaZH.